O Ego de Jesus é Tentado (João 7.1-9)
No capítulo 7 de João, o Ego de Jesus é testado. Era a época da festa das cabanas (ou festa dos tabernáculos), uma celebração judaica alegre que acontecia em Jerusalém para lembrar o tempo em que o povo de Israel viveu no deserto, após sair do Egito. Durante essa festa, muitas pessoas se reuniam e montavam cabanas para lembrar esse período.
Jesus estava na Galileia com Sua família e discípulos. Ele não queria descer a Jerusalém porque sabia que os judeus queriam matá-Lo, mas também sabia que ainda não era a hora certa.
A Tentação Vinda de Dentro
Os irmãos de Jesus O incentivavam a ir a Jerusalém para a festa e manifestar publicamente Seu poder, de modo que todos pudessem reconhecê-Lo como o Messias. O argumento deles era: “Pois ninguém que procura ser conhecido age em segredo” (João 7:4).
Os outros evangelhos contam que Jesus foi tentado pelo diabo no deserto, onde Ele enfrentou propostas de poder e glória que não estavam alinhadas com a missão que Deus Lhe havia dado. Aqui, João não menciona esse episódio, mas mostra que Jesus sofreu uma tentação semelhante, agora vinda de dentro do Seu próprio círculo familiar. O versículo 5 deixa claro que Seus irmãos diziam isso porque não criam Nele.
A Resposta de Jesus: O Caminho da Humildade
Jesus, no entanto, recusa a proposta. Ele manda que Seus irmãos fossem sozinhos à festa e permanece na Galileia. Depois que eles partiram, Jesus decide ir também, mas em segredo.
Muito se falava sobre Jesus na festa. As pessoas e os líderes religiosos estavam confusos e divididos: alguns acreditavam que Ele era o enviado de Deus, enquanto outros achavam que Ele só estava tentando ganhar fama, sem realmente ser o Messias.
O Caminho Alternativo de Jesus
Os irmãos de Jesus queriam encurtar o caminho: sugeriam que Ele fosse a Jerusalém, mostrasse Seu poder e rapidamente conquistasse a admiração de todos. Para eles, o resultado seria óbvio: Jesus seria adorado e reconhecido.
Mas Jesus não veio para tomar o poder pela força. Esse é o caminho que os seres humanos geralmente escolhem: subjugar os outros através da demonstração de poder e força. Deus, porém, não precisa disso. Jesus veio mostrar um caminho alternativo, pois o primeiro caminho, o da dominação, já era conhecido pelos homens.
A Certeza do Caminho da Cruz
Jesus explicou que não iria a Jerusalém naquele momento porque Sua hora ainda não havia chegado. Ele sabia que os judeus queriam matá-Lo e tinha plena consciência de que o caminho que escolheu – um messianismo de serviço, como descreve o teólogo Alfonso Garcia Rubio – o levaria à morte.
Jesus sabia que a perseguição e a morte eram inevitáveis, não porque Ele tivesse que morrer como parte de um sacrifício expiatório (uma interpretação que Seus discípulos fariam mais tarde), mas porque Ele denunciava a maldade e a injustiça do mundo (João 7:7).
Mesmo sabendo que Sua morte era certa, Jesus nunca desiste de Seu caminho. Ele permanece fiel à Sua missão e aos Seus valores até o fim. Ele resiste à tentação de subjugar os outros pelo poder, preferindo o caminho da humildade e do serviço – um caminho que gera dúvidas para muitos. A certeza vem apenas para aqueles que abrem os olhos espirituais e enxergam os valores de Jesus.
A Tentação que Enfrentamos Hoje
Todos nós, em algum momento da vida, enfrentamos essa mesma tentação: escolher o caminho mais fácil e o da ostentação. Não me refiro a um moralismo simples. Lembro-me de um quadro bastante conhecido chamado “Os dois caminhos”. Ele retrata, de forma pietista, dois caminhos: o da esquerda, com uma porta larga e fácil, leva à perdição, passando por salões de baile, cassinos e teatros. O da direita, com uma porta estreita, é cheio de dificuldades e conduz à salvação, passando pela cruz de Cristo, a fonte de água viva e a igreja.
Todos nós em algum momento da vida sofremos esta tentação. Somos tentados a escolher o caminho mais fácil e o caminho da ostentação. E não estou falando aqui de moralismo. Tenho em minha lembrança uma imagem muito nítida de um quadro bem conhecido que se chama “Os dois caminhos”.
Justiça x Injustiça: O Caminho de Jesus
As alternativas que Jesus enfrentou, no entanto, não envolviam apenas escolhas morais. Ele estava mostrando o caminho da justiça em oposição ao da injustiça. Jesus denuncia a hipocrisia dos líderes religiosos: eles trabalhavam no sábado realizando rituais religiosos, como a circuncisão, mas queriam condená-Lo por curar uma pessoa nesse mesmo dia. Isso mostrava que eles colocavam as regras acima das necessidades humanas (João 7:23).
Jesus escolhe o caminho da justiça, onde o bem-estar do ser humano está acima de leis e práticas religiosas. Para Ele, Deus é um Pai acolhedor, que oferece água viva até mesmo a uma mulher discriminada por sua vida conjugal. Ele é um Deus que vê e conhece o sofrimento de um homem que esperou a vida toda por cura, e não hesita em fazer o bem, mesmo sendo o dia de descanso.
Escolhendo o Caminho de Jesus
Que eu e você possamos, em cada momento da nossa vida, buscar ter o discernimento para fazer a escolha que Jesus faria, mesmo que o caminho que Ele nos mostra não satisfaça nosso desejo de reconhecimento ou poder. Devemos escolher o que é justo e correto, mesmo que as consequências não sejam favoráveis ao nosso Ego.
Paz e Bem.
Estou curiosa para ver sobre o tema.
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