Quem é que nunca sentiu aquela alegria de comprar algo novo, né? Uma novidade, um celular, um relógio, uma roupa… todo mundo acho que já sentiu esse prazer e acha prazeroso comprar. É muito boa aquela sensação de ser presenteado, mesmo que o presente venha de nós mesmos, não é verdade? Mas e se essa pequena alegria, na verdade, estiver te prendendo num ciclo vicioso que pode arruinar as suas finanças?
Hoje, nós vamos desvendar o ciclo oculto da compulsão por compras e, para isso, a primeira coisa que precisamos entender é como o ato de comprar afeta o nosso cérebro.
Você provavelmente já ouviu falar sobre a dopamina. Ela é um neurotransmissor, um mensageiro químico liberado pelos neurônios. É também chamada de “o hormônio do prazer” porque está associada a sensações de bem-estar, prazer e alegria que sentimos. A dopamina tem muitos papéis, como na regulação do humor, motivação e até movimento, mas um sistema fundamental onde ela atua é o sistema de recompensa. Ela está ligada a sensações gostosas quando fazemos algo que nos agrada, como comer algo delicioso, receber um elogio ou… fazer uma compra!
Quando nosso cérebro interpreta uma ação como positiva ou necessária, como se alimentar ao sentir fome, os neurônios liberam dopamina para nos motivar a repetir a ação. Essa liberação gera prazer e nos impulsiona a repetir. Adivinha só? Esse mesmo mecanismo de recompensa é ativado no ato de comprar.
O problema é que a dopamina gera uma sensação intensa de prazer, mas ela é momentânea, passa muito rápido. Assim como um pico de açúcar, a sensação de prazer some rapidamente, e a gente se sente estimulado a “repetir a dose”. É aí que mora o risco, porque podemos entrar num ciclo vicioso onde precisamos sempre estar alimentando nosso organismo com essa dose de dopamina.
A armadilha do prazer passageiro
Quando nosso cérebro associa a compra a algo prazeroso e libera dopamina, nos motivando a repetir, podemos acabar entrando nesse ciclo de compra compulsiva. Nosso sistema de recompensa fica literalmente viciado nessa gratificação.
É interessante notar que a dopamina também está associada à antecipação e ao desejo. Ou seja, mesmo antes de comprar, o ato de olhar, desejar, se imaginar com o produto já libera dopamina. Imagine querer um carro novo: você pesquisa na internet, se vê dentro dele, vê outras pessoas usando. Isso já antecipa o prazer, libera dopamina e te induz à compra. Quando você finalmente compra, sente aquela alegria enorme por ter realizado o desejo.
Mas, como dissemos, a alegria acaba. Aquela dose de dopamina passa, e o objeto vira algo comum, talvez fique lá encostado. Você provavelmente já sentiu isso: uma grande vontade de comprar algo, e depois que compra, a alegria intensa vai embora. Eu mesmo tenho objetos fruto dessa compra por impulso, como uma impressora que usei pouquíssimo e hoje está parada. Entender como isso funciona no nosso cérebro é muito importante para tomar consciência das nossas atitudes e do que nos motiva a comprar.
Essa sensação de bem-estar e prazer ao comprar é muitas vezes passageira. Pensamos: “Ah, eu mereço fazer essa compra, mereço gastar esse dinheiro porque trabalhei tanto”. O problema é a duração dessa alegria. Não dura muito, e logo sentimos a necessidade de comprar mais para reativar o sistema de recompensa. Aí entramos num ciclo caro e sem fim que pode levar à falência.
Como o Marketing Amplifica o Problema
O marketing e a publicidade trabalham justamente para gerar em nós essa necessidade. Eles criam necessidade onde não existe. Uma estratégia comum é vender a ideia de “oportunidade imperdível”, como em liquidações e Black Fridays. Você compra só porque está barato, disfarçando a compulsão com o pretexto de um bom negócio, mesmo adquirindo algo sem utilidade.
Outro cenário é o do “shopping therapy”, a terapia das compras, impulsionada por gatilhos emocionais como frustração, estresse ou desilusão. A pessoa pensa “eu mereço”, vai ao shopping, gasta e volta para casa com um monte de sacolas, intensificando a frustração ao perceber que os itens não agregam, só ocupam espaço.
Empresas, especialmente de tecnologia como a Apple, são mestras em tornar produtos objetos de desejo e apelar para ofertas de impulso. Elas exploram o conceito de FOMO (Fear Of Missing Out), o medo de ficar de fora. Com o excesso de informação, temos medo de perder tendências, oportunidades, de não saber o que os outros sabem. Isso afeta decisões de consumo, como comprar o celular de última geração não por necessidade, mas porque “todo mundo está tendo” e você não quer ficar de fora. É um consumo estimulado pela motivação errada.
Desejo vs. Necessidade: A Diferença Crucial
Para combater essa compulsão, é fundamental ter claro a diferença entre desejo e necessidade. Necessidades são coisas essenciais para viver com qualidade. Eu não tenho necessidade de ter o iPhone de última geração, mesmo com todas as funções que a indústria inventa e diz que precisamos. Meu celular atual, de algumas gerações atrás, atende perfeitamente minhas necessidades. O marketing transforma o desejo de ter o último modelo em uma ideia de necessidade.
Talvez você precise de um carro para locomoção. Isso é uma necessidade. Mas será que precisa ser o carro do ano, o mais caro? Querer mais conforto é natural e está na esfera do desejo, não da necessidade. Precisamos saber diferenciar isso, pois é crucial para o nosso bolso. Seres humanos têm infinitos desejos, e nunca conseguiremos realizar todos. A vida não é só atender necessidades, mas o cuidado é para não comprar por impulso, sem avaliar, sendo influenciados por emoções e marketing. Muitas vezes, não é nem o que você realmente quer, mas a satisfação hormonal da dopamina, induzida pelo marketing que trabalha nossas emoções.
Pequenos Gastos Que Viram Grandes Problemas
Viver apenas na base de compras por impulso desregula nossas finanças. Algo é sacrificado, e muitas vezes é o nosso futuro e tranquilidade, pois nos endividamos e entramos em crise.
É fácil subestimar os pequenos, mas numerosos gastos. Economizar no cafezinho não vai te tornar rico, mas gastar nele todo dia, ou acumulando aplicativos que não usa, serviços de streaming que não assiste (Netflix, Amazon Prime, HBO, etc.) e “mimos” semanais, acumula um montante significativo.
Um cafezinho de R$ 7,90 por dia útil pode somar mais de R$ 2.000 por ano. Aplicativos pagos podem custar caro. Acumular vários streamings pode passar de R$ 100 por mês. Se você gasta R$ 50 por semana com “besteirinhas”, são mais de R$ 2.600 no ano. Muita gente não consegue poupar R$ 2.000 em um ano, mas gasta mais de R$ 2.000 com cafezinho. Esses gastos impulsivos e recorrentes se tornam um grande montante no longo prazo.
Como Sair Desse Ciclo Vicioso
A primeira coisa é: identifique seus gatilhos emocionais. O que desencadeia sua vontade de comprar? Estresse, tédio, ansiedade, tristeza? Ou são situações como ir ao shopping, navegar online, redes sociais, ou até conversas? Suas decisões de compra são muito mais baseadas em emoções do que na razão.
Tendo consciência disso, procure identificar esses gatilhos. Como? Faça um diário de gastos. Não uma planilha complexa, mas um diário simples onde você registra cada compra, por menor que seja, e anota o que estava sentindo e a motivação. Por que comprou online? Estava ansioso? Entediado? Foi ao shopping e gastou? Era uma recompensa por um dia difícil? Anote e analise semanalmente para tomar consciência dos seus impulsos.
Busque substituições saudáveis para seus gatilhos. Para o tédio, leia um livro, faça exercício, ligue para um amigo. Para o estresse, medite, ouça música, tome um banho relaxante. Encontre outras formas de recompensa sem custo. Evite redes sociais, pois elas induzem dopamina (curtidas) e ansiedade, alimentando o ciclo. Procure atividades ao ar livre, meditação, estudar, ler.
Outra dica é limitar seus gastos. Considere usar uma conta separada com um cartão de débito ou pré-pago, colocando o valor que pode gastar na semana. Antes de comprar, veja se tem dinheiro e se não compromete seu orçamento. Evite o cartão de crédito.
Antes de comprar por impulso, espere um tempo. A regra das 24 horas ou 7 dias (para compras maiores) permite que suas emoções se estabilizem e você fuja do impulso. Impor pequenas restrições gera grandes resultados no longo prazo. Pense em quanto patrimônio você deixou de construir por compras impulsivas que não resolveram problemas.
Compras impulsivas não resolvem problemas profundos, como tristeza. Elas dão um alívio imediato, como um remédio para febre que trata o sintoma, mas não a causa. Identificar a causa é crucial. Talvez você precise da ajuda de um terapeuta.
Mas tomar consciência do problema já é o primeiro e mais importante passo para a sua saúde financeira.
Espero que este artigo tenha sido útil e te ajude a entender melhor esse ciclo e a começar a se libertar dele. Deixe seu comentário abaixo compartilhando sua experiência sobre este assunto!
Confira também meu vídeo no Youtube que explora em mais detalhes o tema: